A um ausente.


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

1 comentários:

Anónimo disse...

...."Tenho saudades…
Do teu cheiro
Da tua pele
Do teu belo sorriso
Do olhar doce de mel.
Já andei por toda a parte
Já percorri caminhos obscuros
Sei preto no branco
Que no amor não existem seguros.
Relembro dia a dia cada traço teu
Cada linha que compõe teu rosto
E desse corpo que também já foi meu,
....."

o resto depois direi.. :)

Lost Words_