Reflexão sobre a Vida!!!

Há certas coisas que nos passam ao lado, para muitos de nós é como se nem estivessem ali, mesmo aos nossos olhos!!!
Em 2009 1Bilião de Seres Humanos passam fome e um Ser Humano, morre de fome em cada três segundos.
Sangue, morte, violência, descontrole, apatia e dor...
Fome, arma, guerra e sangue...



"Lançai o olhar em torno;
Arde a terra abrasada
Debaixo da candente abóbada dum forno.
Já não chora sobre ela orvalho a madrugada;
Secaram-se de todo as lágrimas das fontes;
E na fulva aridez aspérrima dos montes,
Entre as cintilações narcóticas da luz
As árvores antigas;
Levantam para o ar – atléticas mendigas,
Fantasmas espectrais, os grandes braços nus.

Na deserta amplidão dos campos luminosos
Mugem sinistramente os grandes bois sequiosos.
As aves caem já, sem se suster nas asas.
E, exaurindo-lhe a força enorme que ela encerra,
O Sol aplica à Terra
Um cáustico de brasas.

O incêndio destruidor a galopar com fúria,
Como um Átila, arrasta a túnica purpúrea
Nos bosques seculares;
E, Lacoontes senis, os troncos viridentes
Torcem-se, crepitando entre as rubras serpentes
Com as caudas de fogo em convulsões nos ares

O Sol bebeu dum trago as límpidas correntes;
E os seus leitos sem água e sem ervagens frescas,
Co'as bordas solitárias,
Têm o aspecto cruel de valas gigantescas
Onde podem caber muitos milhões de párias.
E entre todo este horror existe um povo exangue,
Filho do nosso sangue,
Um povo nosso irmão
Que nas ânsias da fome, em contorções hediondas
Nos estende através das súplicas das ondas
Com o último grito a descarnada mão.

E por sobre esta imensa, atroz calamidade,
Sobre a fome, o extermínio, a viuvez, a orfandade,
Sobre os filhos sem mãe e os berços sem amor,
Pairam sinistramente em bandos agoireiros
Os abutres, que são as covas e os coveiros
Dos que nem terra têm para dormir, Senhor!

E sabei – monstruoso, horrível pesadelo! –
Sabei que aí – meu Deus, confranjo-me ao dizê-lo! –
Vêem-se os mortos nus lambidos pelos cães,
E os abutres cruéis com as garras de lanças,
Rasgando, devorando os corpos das criança
Nas entranhas das mães!

II
Quando inda há pouco o vendaval batia
Dos grandes montes nos robustos flancos;
E as nuvens, como enormes ursos brancos,
Em tropel pela abóbada sombria

Dos canhões dos titãs, aos solavancos,

Arrastavam a rouca artilharia;

Quando os rios, indômitos, escuros,
Iam como ladrões saltando os muros,
Para roubar ao camponês o pão;
E, cruzando-se, os raios flamejantes
Abriam como esplêndidas montanhas
De meio a meio a funda escuridão;

Quando os ventos aspérrimos, frenéticos
Como ciclopes doidos, epilépticos,
Com raivas convulsivas
Perseguiam, bramindo, às chicotadas,
Das retumbantes ondas explosivas
As trôpegas manadas;

Quando entre os gritos roucos da procela,
A fome – a loba – escancarava a goela
Uivando às nossas portas;
E andavam sobre as águas desumanas
Com os despojos tristes das choupanas
Berços vazios de crianças mortas;

Oh! nesse instante, ao ver o povo exânime,
Pulsou da pátria o coração unânime,
Um coração de mãe piedosa e boa...
E das imensas lágrimas choradas
Muitíssimas então foram guardadas
Entre as jóias da c'roa.
Mas é certo também que além dos mares
Alguém ouviu, alguém, cortando os ares
Essa terrível dor;

E esse alguém é quem hoje, é quem agora
Morto de fome a soluçar implora
Mais do que o nosso auxílio – o nosso amor.
Vamos! Abri os corações, abri-os!
Transborde a caridade como os rios
Transbordaram dos leitos em Janeiro!
Nem pode haver decerto mão avara,
Que a esmola negue a quem lh'a deu primeiro.

A miséria é um horrível sorvedoiro;
Vamos! enchei-o com punhados d'oiro,
Mostrando assim aos olhos das nações
Que é impossível já hoje (isto consola)
Morrer de fome alguém, pedindo esmola
Na mesma língua em que a pediu Camões!"


Poema extraído do livro A Musa em Férias, da 2ª edição de OBRAS de Guerra Junqueiro (Poesia).



Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...








A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...




(Florbela Espanca)








Sofres e choras? Vem comigo! Vou mostrar-te
O caminho que leva à Cidade do Sonho...
De tão alta que está, vê-se de toda a parte,
Mas o íngreme trajecto é florido e risonho.


Vai por entre rosais, sinuoso e macio,
Como o caminho chão duma aldeia ao luar,
Todo branco a luzir numa noite de Estio,
Sob o intenso clamor dos ralos a cantar.


Se o teu ânimo sofre amarguras na vida,
Deves empreender essa jornada louca;
O Sonho é para nós a Terra Prometida:
Em beijos o maná chove na nossa boca...


Vistos dessa eminência, o mundo e as suas sombras,
Tingem-se no esplendor dum perpétuo arrebol;
O mais estéril chão tapeta-se de alfombras,
Não há nuvens no céu, nunca se põe o Sol.


Nela mora encantada a Ventura perfeita
Que no mundo jamais nos é dado sentir...
E a um beijo só colhido em seus lábios de Eleita,
A própria Dor começa a cantar e a sorrir!


Que importa o despertar? Esse instante divino
Como recordação indelével persiste;
E neste amargo exílio, através do destino,
Ventura sem pesar só na memória existe...


in 'Sol de Inverno'


Tanto andamos com a saudade
Que o costume é mesmo assim,
De repente, se ela chega,
Sinto eu por ti e tu por mim.

Pra dissipar a saudade
Sei de um jeito bem legal
Venha correndo me ver
É essa a forma ideal.

Depois de um abraço forte
E um beijo fenomenal
Quem mais vai sentir saudade?
Esse é o jeito ideal!

Pra curar, volto a afirmar:
Saudade bateu no peito?
Só mesmo beijo e abraço,
Não existe melhor jeito!

Derrete vela de pedra,
O chamego desse encontro
Coração acelera,
A gente até fica tonto.

Quem nunca sentiu saudade
É porque não amou ninguém.
De mansinho ela chega
Quando o nosso amor não vem…

É nos braços do meu bem
Que essa saudade desaba…
Saudade sempre é bonita,
Mas é melhor quando acaba!



(MÍRIAN WARTTUSCH)

Why???



Why, do you always do this to me?
Why, couldn't you just see through me?
How come, you act like this
Like you just don't care at all
Do you expect me to believe I was the only one to fall?

I can feel I can feel you near me, even though you're far away
I can feel I can feel you baby, why?

It's not supposed to feel this way
I need you, I need you
More and more each day
It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you, I need you
Tell me, are you and me still together?
Tell me, do you think we could last forever?
Tell me, why!!!

Hey, listen to what we're not saying
Let's play, a different game than what we're playing
Try, to look at me and really see my heart
Do you expect me to believe I'm gonna let us fall apart?

I can feel I can feel you near me, even when you're far away
I can feel I can feel you baby, why?

It's not supposed to feel this way
I need you, I need you
More and more each day
It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you, I need you
Tell me, are you and me still together?
Tell me, you think we could last forever?
Tell me, why!!!

So go and think about whatever you need to think about
Go ahead and dream about whatever you need to dream about
And come back to me when you know just how you feel, you feel
I can feel I can feel you near me, even though you're far away
I can feel I can feel you baby, why?

It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you
More and more each day
It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you, I need you
Tell me...

It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you
More and more each day
It's not supposed to hurt this way
I need you, I need you, I need you
Tell me, are you and me still together?
Tell me, do you think we could last forever?
Tell me, why!!!

All I Ask of You



Da minha vida, assim,
O que vai ser nem sei!
Dias alegres houvesse...
E os dias são para mim
Rosas mortas de um jardim
Que um vendaval desfizesse.

Tenho horas bem amargas.
Eu o confesso,
Eu o digo.
E se tudo passa e esqueço,
Esquecer o teu perfil
É coisa que eu não consigo.

Sofro por ti. O frio do que morre
Amortalha a minha alma em saudade.
Atrás de uma ilusão a minha vida corre,
Como se fora atrás de uma verdade.

A Deus peço, por fim, o meu sossego antigo.
Não me persiga mais o teu busto delgado.
Passo os dias e as noites a sonhar contigo,
Na cruz da tua ausência estou crucificado.

A tua falta sinto. Não o oculto.
Ocultá-lo seria uma mentira.
Vejo por toda a parte a sombra do teu vulto,
Teu nome é para mim um mundo que me inspira.


Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado

Há Palavras que Nos Beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperançar louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

Posso escrever os versos mais tristes esta noite!!!


Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escribir, por ejemplo: “La noche está estrellada",
Escrever, por exemplo: “a noite está estrelada",
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos.
e tiritam, azuis, os astros, na distância.
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
O vento da noite gira no céu e canta
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Yo la quise, y a veces ella también mi quiso.
Eu a quis, e ela, às vezes, , também a mim.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
Em noites como esta a tive entre meus braços
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
A beijei tantas vezes debaixo do céu infinito
Ella me quiso, a veces yo también la queria.
Ela me quis, como algumas vezes eu também a ela
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela
Y el verso cae al alma como al pasto el rocio.
E o verso cai na alma como o sereno no pasto
Qué importa que mi amor no pudiera guardala.
Que importa que meu amor não pôde mantê-la comigo
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
A noite está estrelada e ela não está comigo
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Isso é tudo. Alguém canta lá longe. Muito longe
Mi alma no se contenta com haberla perdido.
Minha alma não se conforma por tê-la perdido
Como para acercala mi mirada la busca.
Como para aproximá-la, meu olhar busca por ela
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
Meu coração busca por ela, e ela não está comigo
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Nós, os daquela época, não somos mais os mesmos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Já não a amo, é certo, mas quanto a quis.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Já não a amo, é certo, mas talvez ainda a ame.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Porque em noites como esta a tive em meus braços,
mi alma no se contenta com haberla perdido.
minha alma não se conforma por tê-la perdido
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
ainda que esta seja a última dor que ela me causa
Y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.
E estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


(Pablo Neruda)

Vida Sem Rumo

Choro!!!





Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
as crianças violadas
nos muros da noite
úmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
— no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este seqüestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
— onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueleto de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insônias e de cardos,
neste òdio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor a Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
— num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!


(José Gomes Ferreira)

Sem Remédio


Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou ...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!


Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

O que foi que aconteceu!!!


Aconteceu
Eu não estava à tua espera
E tu não me procuravas
Nem sabias quem eu era
Eu estava ali só porque tinha que estar
E tu chegaste porque tinhas que chegar
Olhei para ti
O mundo inteiro parou
Nesse instante a minha vida
A minha vida mudou
Tudo era para ser eterno
E tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos?
O que foi que aconteceu?
Tudo era para ser eterno
E tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos, meu amor?
O que foi que aconteceu?
Aconteceu
Chama-lhe sorte ou azar
Eu não estava à tua espera
E tu voltaste a passar
Nunca senti bater o meu coração
Como senti ao sentir a tua mão
Na tua boca o tempo voltou atrás
E se fui louca
Essa loucura
Essa loucura foi paz
Tudo era para ser eterno
E tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos?
O que foi que aconteceu?
Tudo era para ser eterno
E tu para sempre meu
Onde foi que nos perdemos, meu amor?
O que foi que aconteceu?

A valsa dos amantes

Sob o Chuveiro Amar


Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?


Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'

A Angústia


Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.


Paul Verlaine, in "Melancolia"