De olhos vendados.



"Vendo os olhos,
fecho as pálpebras
deito-me a adivinhar sentidos
dos caminhos percorridos,
dos trilhos calcorreados
por anos já decorridos.
Cem vezes foram pisados,
sem tempos foram perdidos,
cem casos desperdiçados
sem prantos foram sofridos.

Contorno esquinas de dor,
conto pedras da calçada
que pavimentam a alma,
à noite, pela calada.
Sei-as bem, sei-lhes a cor,
cada linha, sua textura,
seu escolho, cada fractura,
que tacteio com brandura,
evitando com candura
padecimentos de amor.

Procuro voz que me acalme,
Que me sossegue e me mime
que me leve desta estrada
onde sem querer me perdi.
Onde as casas sem janelas,
destas íngremes ruelas,
querem-me vendar com elas,
para não te ver a ti."

C.A.

2 comentários:

Anónimo disse...

É bom ler-te novamente... :)

*

Anónimo disse...

:)