Soneto do Cativo.


Se é sem dúvida Amor esta explosão...
De tantas sensações contraditórias,
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção.

O espelho deformante, a profusão,
de frases insensatas, incensórias,
a cúmplice partilha nas histórias,
do que os outros dirão ou não dirão.

Se é sem dúvida Amor a cobardia,
de buscar nos lençóis a mais sombria,
razão de encantamento e de desprezo.

Não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cega, surda e suja,
tenho vivido eternamente presa!


(David Mourão-Ferreira)

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